Exposição Anjos com armas – Sergio Camargo, Lygia Clark, Mira Schendel e Hélio Oiticica, na Pinakotheke Cultural Rio

Quatro nomes fundamentais da arte brasileira estão nesta exposição com
aproximadamente 50 obras: Sergio Camargo (1930-1990), Lygia Clark (1920-1988),
Mira Schendel (1919-1988) e Hélio Oiticica (1937-1980).
A mostra presta tributo à
lendária galeria londrina Signals (1964-1966) – que teve um papel decisivo na
divulgação internacional da arte brasileira – e a um de seus criadores, o crítico e
curador britânico Guy Brett (1942-2021), um entusiasta de nossa produção artística.
Algumas obras expostas estiveram no espaço de arte de Londres: “Bicho-Contrário II”
(1961), “Espaço Modulado nº 4” (1958) e “Espaço modulado nº8” (1959), de Lygia
Clark, e “Relief” (1964), de Sergio Camargo.

Estará presente à abertura da exposição o historiador e filósofo Yve-Alain Bois, um dos
grandes críticos de arte da atualidade.
Na ocasião, será lançada uma dupla publicação –
o livro sobre a exposição, com textos de Guy Brett sobre os artistas, um texto do artista
Luciano Figueiredo, e apresentação de Max Perlingeiro, curador da exposição e diretor
da Pinakotheke Cultural; e “Anjos com Armas”, íntegra do texto de Yve-Alain Bois
escrito originalmente para a revista “October”, do MIT, em que faz reflexões sobre o
pensamento de Guy Brett e o artista filipino David Medalla (1942-2020), que estiveram à
frente da Signals.

A Pinakotheke Cultural, no Rio de Janeiro, abrirá para o público no dia 18 de março de
2024 a exposição “Anjos com armas”, apresentando aproximadamente 50 obras
dos
artistas Sergio Camargo (1930-1990), Lygia Clark (1920-1988), Mira Schendel (1919-
1988) e Hélio Oiticica (1937-1980. A curadoria é de Max Perlingeiro, diretor da
Pinakotheke Cultural, com a colaboração do artista Luciano Figueiredo.
A mostra é um tributo ao crítico e curador britânico Guy Brett (1942-2021), que
desempenhou papel decisivo na internacionalização da arte brasileira, ao criar, junto com o
artista filipino David Medalla (1942-2020), e outros amigos, a lendária galeria Signals, que
de 1964 a 1966 exibiu obras desses fundamentais artistas que são Lygia Clark, Hélio
Oiticica,Mira Schendel e Sergio Camargo. Quatro obras que estiveram originalmente
na Signals, estarão expostas na Pinakotheke Cultural: “Bicho-Contrário II” (1961),
“Espaço Modulado nº 4” (1958) e “Espaço modulado nº8” (1959), de Lygia Clark, e
“Relief” (1964), de Sergio Camargo.

CONTRACULTURA EM LONDRES E AMOR PELA ARTE BRASILEIRA
A respeito da Signals, Max Perlingeiro comenta que “contracultura pra eles era tudo que
saia do mainstream, e não tinha na época nada mais fora do pensamento dominante do
que a arte latino-americana na Inglaterra dos anos 1960”.

Até o fim de sua vida, Guy Brett foi próximo dos artistas brasileiros. “Guy Brett sempre foi
a grande referência para uma melhor compreensão da produção artística no Brasil a partir
dos anos 1960. Sua amizade com artistas como Sergio Camargo, Hélio Oiticica, Lygia
Clark e Mira Schendel, na década de 1960, e, mais tarde, com Lygia Pape, Cildo
Meireles, Antonio Manuel, Tunga, Waltercio Caldas, Regina Vater, Roberto
Evangelista, Maria Thereza Alves, Jac Leirner, Ricardo Basbaum e Sonia Lins,
propiciou a divulgação da produção artística brasileira através de diversos artigos e
livros”, afirma Max Perlingeiro. Para ele, o livro “Brasil experimental-arte/vida:
proposições e paradoxos” (editora Contracapa, 2005), com textos de Guy Brett sobre
esses quinze artistas citados acima, com organização e prefácio de Katia Maciel, e
tradução de Renato Rezende, é “leitura obrigatória”.

Na abertura de “Anjos com armas”, estará presente o crítico, historiador e filósofo da arte
Yve-Alain Bois (Constantine, Argélia, 1952), pesquisador no prestigioso Institute for
Advanced Study, em Princeton, EUA. Em 2022, Yve-Alain Bois publicou na “October
Magazine”, do Massachusetts Instituteof Technology (MIT), o ensaio “Angels with Guns”
(“Anjos com armas”), em que faz reflexões sobre o pensamento de Guy Brett (1942-
2021) e do artista filipino David Medalla (1942-2020). Yve-Alain Bois foi amigo próximo
de Lygia Clark desde o final dos anos 1960 até a morte da artista.

DUPLA PUBLICAÇÃO “ANJOS COM ARMAS”

Max Perlingeiro lembra que o contato com o grande crítico Yve-Alain Bois surgiu quando
pensou na exposição comemorativa do centenário de Lygia Clark – realizada de agosto a
outubro de 2021 na Pinakotheke Cultural, no Rio de Janeiro, e de novembro de 2021 a
15 de janeiro de 2022, na Pinakotheke em São Paulo. Naquela mostra, ele obteve a
“preciosa colaboração” de Yve-Alain Bois, e publicou um trecho de seu ensaio “Angels
with Guns”, que agora chega na íntegra ao público brasileiro, com a exposição “Anjos
com Armas”.

Na abertura da exposição será lançada a dupla publicação “Anjos com Armas”– dois
volumes
envolvidos por uma “luva” – bilíngüe (port/ingl), em formato de 21 x 27 cm. O
primeiro, com 132 páginas, traz na íntegra o texto “Anjos com Armas” (“Angels with
Guns”), de Yve-Alain Bois.

Quando o filósofo enviou o texto para a tradução em português, ele instigou a
Pinakotheke a montar uma exposição com base no ensaio, que trata-se de um texto muito
amoroso sobre a importância da Signals e a amizade.
O volume 2, com 128 páginas, contém as imagens das obras da exposição, e fotografias
de época, como as que mostram a Signals. Os textos são de Guy Brett sobre os artistas
Sergio Camargo, Lygia Clark, Mira Schendel e Hélio Oiticica, apresentação de Max
Perlingeiro, e ainda um texto de Luciano Figueiredo, que em 2017 organizou, com Paulo
Venâncio Filho, no Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro, a exposição “Guy Brett:
a proximidade crítica”, em “reconhecimento ao longo interesse intelectual e afetivo do
crítico por nossos artistas”, assinala Max Perlingeiro.

OUTROS DESTAQUES DA EXPOSIÇÃO
Outros destaques da exposição são os Bichos, de Lygia Clark, em alumínio: Bicho
caranguejo (1960) e Bicho-contrário II (1961); o conjunto de sete “Metaesquemas” de
Hélio Oiticica, de 1957 a 1959; o conjunto de seis “Relevos”de Sergio Camargo, entre
eles o Relevo nº 172 (Fenditura spazio orizzontal e lungo), de 1967; os seis trabalhos
da série “Monotipias” dos anos 1960 de Mira Schendel, além de seu “Caderno de
artista” (1966), o “Diário de Londres”, em que a artista usa, “ao que parece, pela
primeira vez, as letras decalcadas (letraset)”, afirmou Taisa Palhares, no catálogo da
exposição “O espaço infindável de Mira Schendel” (2015), na Galeria Frente.

LINHA DO TEMPO
Além dos textos de Guy Brett sobre os artistas, e outros de Max Perlingeiro, Yve-Alain
Boise Luciano Figueiredo, estará em uma parede da exposição uma linha do tempo da
Signals, com fotos.

ANJOS COM ARMAS – O TÍTULO
O título do ensaio de Yve-Alain Bois, que dá nome à exposição – “Anjos com Armas” –
é tema de uma longa reflexão do pensador, desenvolvida em seis páginas do livro. Ele
inicia o capítulo escrevendo que: “Talvez o texto que, para mim, melhor sintetiza o tom
inimitável de Guy Brett, que é também o que eu chamaria de seu método, é sua reflexão
sobre as recorrentes imagens de anjos na arte latino-americana pós-conquista, em
especial a profundamente perturbadora e ambígua imagem do anjo com uma arma”.
Continua o autor: “Bastante apropriado, portanto, que ele se perguntasse o que o atrai una
enigmática figura do anjo com uma arma (“tanto oficial e coercivo quanto não oficial e
subversivo”) e ponderasse sobre sua popularidade nos Andes ao longo do século XVIII!”.
Yve-Alain Bois destaca que “Brett menciona sua relutância em ‘impor sua visão’, seu
anseio pelo ‘apagamento de si’: ‘Sempre desejei me posicionar como um observador de
mente aberta, um pouco como os aventureiros ingênuos de romances picarescos que se
deparam com diferentes situações ao longo do caminho e reagem a elas como podem ou
como querem’. Contudo (…) seu olhar picaresco não se deixa seduzir pelo exotismo”. (…)
Paradoxos e ambiguidade são a ‘obsessão pessoal’ de Brett — a luta dialética de opostos
e sua colusão/colisão num único objeto é o leitmotiv desses ensaios”,
“Não é por acaso”, segue Yve-Alain Bois, “que este livro se inicia com ensaios sobre
Hélio Oiticica, Lygia Clark e David Medalla, artistas a quem Brett foi o primeiro a apoiar
na Europa e aos quais ele sempre faz referência. O que esses três artistas têm em comum
é uma recusa a se fossilizar a qualquer custo (daí seu constante recurso ao efêmero
como um ataque camicase às instituições) e um profundo desejo de questionar a
identidade estável do autor”.
“Brett conclui ‘Being Drawnto na Image’ invocando o cineasta brasileiro Glauber Rocha a
respeito do potencial revolucionário do sonho (‘o sonho é o único direito que não se pode
proibir’). Bakhtin [filósofo russo; 1895-1975] concordava com essa ideia, embora ele
provavelmente não tivesse usado a palavra ‘evolucionário’”.
“Sonhos são carnavalescos, irreverentes – eles acolhem contradições, eles invertem ou
colapsam o alto e o baixo, assim como todos os opostos hierárquicos; por natureza,
pervertem qualquer discurso monológico, lançam dúvidas sobre todas as afirmações. Guy Brett nos conta que certas ‘imagens dialéticas’ podem desempenhar a mesma função —
isto é, desde que alguém seja curioso ou paciente o bastante para interrogá-las. Pensando
no anjo com uma arma, gostaria de terminar com outra invocação de sonhos — a definição
de ambiguidade de [Walter] Benjamin em seu ensaio de 1935, ‘Paris, capital do século
XIX’: ‘A ambiguidade é a imagem pictórica da dialética, a lei da dialética vista em
paralisação. Essa paralisação é utopia, e a imagem dialética, portanto, uma imagem
onírica’”.

Serviço: Exposição “Anjos com armas – Sergio Camargo, Lygia Clark, Mira Schendel
e Hélio Oiticica
18 de março a 11 de maio de 2024
Pinakotheke Cultural – Rio de Janeiro
Rua São Clemente 300, Botafogo
22260-004 – Rio de Janeiro – RJ
Telefones: 21.2537.7566
E-mail: contato@pinakotheke.com.br
Segunda a sexta-feira, das 10h às 18h, e sábados das 10h às 16h.
Entrada gratuita

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