Lançamento do livro “Faces” da pintora Cristina Canale, com textos dos curadores Galciani Neves e Victor Gorgulho

Pintora radicada em Berlim há mais de trinta anos, considerada uma das mais importantes artistas brasileiras, Cristina Canale lança seu livro “Faces” (Nara Roesler Livros e Act) e conversa com o curador Victor Gorgulho.

Nara Roesler Rio de Janeiro tem o prazer de convidar, no dia 14 de março de 2024,
às 19h, para o lançamento do livro “Faces” (Nara Roesler Livros e Act), dedicado à
produção da pintora Cristina Canale às séries de retratos, com textos dos curadores
Galciani Neves e Victor Gorgulho, 224 páginas e 130 imagens.
Radicada em
Berlim há mais de trinta anos, Cristina Canale é considerada uma das mais
importantes artistas brasileiras, e uma das expoentes da Geração 80. No lançamento
de seu livro, ela irá conversar com o curador Victor Gorgulho.
O livro “Faces” reúne 103 obras criadas por Cristina Canale desde 2006, além de
detalhes que destacam as pinceladas com texturas das tintas, colagens de tecidos e
o seu caderno de anotações, que dá muitas pistas sobre seu processo criativo. As
obras são majoritariamente de faces de mulheres – corpo-paisagem, como definiu
Galciani Neves –, e a artista conta que começou a fazer esses retratos há mais de
dez anos, mas que só há sete passou a mostrá-los. “Os retratos começaram a partir
de um momento no processo que passei a focar nas partes do corpo separadamente,
criando narrativas a partir só de pés, mãos, e… rostos. Meio que a parte pelo todo…
Daí para entrar nos retratos como um territórioi conográfico foi um pulo”, explica. “O
retrato é um território vasto que vai da abstração à narrativa. Alguns foram feitos a
partir de pessoas bem conhecidas, mas sem preocupação de figurar estes
personagens. Apenas usei elementos da imagem”, comenta.

Celebrando em 2024 quarenta anos de trajetória, iniciada na histórica mostra
“Como Vai Você, Geração 80?”, em 1984, na EAV Parque Lage – que teve
curadoria de Marcus Lontra Costa, Paulo Roberto Leal (1946-1991) e Sandra
Magger (1956-2018) – Cristina Canale, carioca de 1961, tem obras em importantes
coleções no Brasil e no exterior, como Museu de Arte de São Paulo Assis
Chateaubriand (MASP), Pinacoteca de São Paulo, Itaú Cultural, Museu de Arte
Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), Museu de Arte do Rio (MAR), Museu de Arte
Contemporânea de Niterói (MAC-Niterói), Hall Art Foundation, em Derneburg,
Alemanha, e Vermont, Estados Unidos, e Museum No Hero, em Delden, Holanda.
Cristina Canale abriu recentemente a individual “A Casa e o Sopro”, no Instituto
Ling, em Porto Alegre, com curadoria de Daniela Labra, que ficará em cartaz até 1ª
de junho de 2024.

Cristina Canale, A casa do sonhador 2023 nanquim, aquarela, colagem. Foto: AlexandreJanetzko

RETRATOS: ROSTOS COMO ELEMENTOS DE PAISAGENS
Galciane Neves, em seu texto “Who’sthat girl?” (título da música de Madonna que
integrou a trilha sonora do filme “Quem é essa garota?”, de 1987), afirma que Cristina
Canale, “quando se dedica ao que reconhecemos na história daarte como retrato, se
vale de procedimentos análogos aos de quando pensa a paisagem”. “Não se
trata,portanto, de uma migração brusca de um gênero de pintura para outro ou de
diferenciar procedimentos nesses distintos fazeres”, afirma. “Nesses retratos, Canale
desenha e demarca cartografias. Ou seja, o rosto, partes do corpo da personagem
em cena, como mãos, cabelos, pescoço, tronco, têm uma eloqüência cromática e,
por isso, podem ser percebidos como territórios, uma espécie de geografia aérea ou
em perspectiva, ou como elementos de paisagem – montanhas, rios, vales, fendas,
mata”.
Para Galciani Neves, a artista cria “jogos de linguagem que traçam câmbios e
transmutações entre zonas híbridas da pintura que se deixam esfregar e se
contaminar umas às outras: a paisagem que acontece como corpo, o corpo que se
integra à paisagem, um retrato que encena um rosto como campos de cor que se
assemelham a paisagens, um rosto que acontece com topografias, relevos,
curvas”.
A curadora menciona vários exemplos de obras que estão no livro – em “Maria”
(2021), tinta a óleo sobre linho, 100 x 80 cm, “Canale solta o gesto para esse
acontecimento corpo/paisagem”. “No retrato,sobre um fundo azul em dégradé, a
mancha enegrecida é o cabelo da personagem, mas se nos dedicarmos a um
exercício de imaginação, ela pode ser vista como uma ilha, coberta por uma nuvem. A
nuvem, ao mesmo tempo, sobrevoaa ilha e cobre os olhos da personagem. Ou seria o
dégradé uma sugestão de mar adentro? E a forma enegrecida, um corte na
paisagem?”, pergunta.
Sobre “Teach (Fessora)”, de 2023, tinta acrílica, óleo e colagem de tecidos sobre
linho, 110×100 cm, comenta Galcian iNeves: “Um rosto sem olhos, sem boca,
semnariz parece nos encarar. Sua extensão é toda preenchida com bolinhas,
sugerindo uma espécie de cartografia, comose cada tom de amarelo representasse
um lugar, uma cidade,uma delimitação. Entre elas, um círculo rosa se destaca, e dele
sai um balão, como os das histórias em quadrinhos. Aoque nos indica Canale, esses
elementos são caminhos para entrar ou sair da pintura, ou respiros. Sim, tudo é corpo
e também paisagem”.
Victor Gorgulho, em seu texto “Cristina Canale: a parte pelo todo”, assinala que
“não seria errado afirmar que os rostos representados por Canale, quase sempre
desprovidos de olhos/bocas/narizes, são frutos (eles também) da descoberta já
longínqua das tais figuras ovóides-vegetais-disformes sobre as quais Canale se
dedicou a investigar a partir de meados da década de 1990”. “Arrisco dizer que somos
então atravessados por uma epifania: os rostos de Canale têm, sem dúvida, olhos,
bocas, narizes e tantas outras formas mais. A maestria do processo da artista talvez
seja nos fazer acreditar na ideia de um vazio aparente – tolice pura, a nossa! A
verdade é que apenas nós não somos capazes de ver tais formas ali representadas,
ao passo que apenas os olhos cristalinos de Cristina Canale as vêem
constantemente, como se nunca tivessem deixado de ali estarem, perfeitamente
delineadas sobre a superfície de suas telas”.

“QUEM ELA PINTA?”
Galciani Neves afirma que a pergunta “quem ela pinta?” foi se misturando, no texto,
“à discussão sobre a indissociabilidade entrecorpo e paisagem que Canale
emprega em muitos de seusretratos”.
O livro “Faces” reproduz, das páginas 196 a 213, o caderno da artista. Galciani
Neves chama a atenção para uma anotação, em que “três círculos em uma página
são referendados como reticências”. “E essa pontuação sugeriu a licença poética que
traçamos logo a seguir, sendo tambémbastante inspirada em uma personagem de
Canale, que não sabemos se foi ou será retratada: uma mulher de tranças e olhar
assustador. Raios vermelhos saem dos seus olhos, que se arregalam. Os raios
atravessam outros dois rostos. ‘gun powde rgelatine/dynamite with a laser beam’
[gelatina e pólvora, dinamite com raio laser]. Essas palavras orbitam seu rosto na
página do caderno. E a pergunta se refaz: quem é essa garota? Abaixo de sua face,
numa zona triangular verde-flúor, que pode ser sua roupa, está o que pode ser a
resposta: ‘She’s a killer queen’ [Ela é uma rainha assassina]. Como uma provocação,
a frase descreve a personagem que não deixa muitos rastros, apenas raios
vermelhos. É a partir desse rosto que seguimos caminhando e fabulando sua história,
a história de um corpo-paisagem”.

Ficha técnica do livro:
“Cristina Canale – Faces”
Textos de Galciani Neves e Victor Gorgulho
17,5 x 24,5 cm
224 páginas
103 obras reproduzidas, 130 imagens
Publicado pela Nara Roesler Livros e Act. Editora com patrocínio da Constellation
Asset Management via Lei Federal de Incentivo à Cultura
ISBN: 978-85-66741-14-8 (português)
Valor: R$ 100,00

SOBRE CRISTINA CANALE
No início dos 1980, Cristina Canale se dividia entre a faculdadede economia e os
cursos no Parque Lage.
Victor Gorgulho destaca que “majoritariamente produzindo em consonância com
seus pares – entre os quais figuras que Canale carrega como amigos e parceiros de
seu percurso artístico até hoje, como Beatriz Milhazes (1960), Daniel Senise (1955),
Luiz Zerbini (1959) e outros mais –, a artista passou a realizar telas em grande
escala, onde um desejo paisagístico parece imperar sobre o todo apresentado”. “As
ditas paisagens de Canale raramente resultavam em bucólicas cenas que remetiam à
típica representação moderna da paisagem, tampouco respondiam à memória
imediata da paisagem urbana que a cercava”.
Em 1993, com uma bolsa de estudos, a artista foi para a Alemanha, onde fixou
residência.Para o curador, na Alemanha, a artista “inaugurou uma relação com suas
pinturas em que, no lugar do uso de um gestual pesado, suas mãos viriam deixar com
que a tinta praticamente apenas escorresse, suavemente se derramasse pelo plano
visual”.

Nos anos 2000, relata Galciani Neves que “é possível perceber uma outra
transformação importante em seu percurso”. “Aos poucos, essas paisagens
começaram a ser habitadaspor pessoas e bichos. Não há, ao que parece, uma
delimitação entre personagens e fundo. Mas o desejo pela cor fazendo espaços-
corpos, espaços-paisagens, enquanto essesse nutrem entre si, quando em cena”.
Há mais de dez anos, Cristina Canale começou a pintar rostos de mulheres, e três
anos depois passou a mostrá-los, aos poucos, junto a seus outros trabalhos.
Em 2021, apresentou a individual “The Encounter”, na Nara Roesler em Nova York,
EUA, e, em 2018, “Cabeças/falantes”, na Nara Roesler, em São Paulo.

Serviço: Lançamento do livro “Cristina Canale – Faces” e conversas com a artista
14 de março de 2024, às 19h
Conversa entre a artista e o curador Victor Gorgulho
Nara Roesler – Rua Redentor, 241, Ipanema, Rio de Janeiro

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