JORNADA ABCA 2023 - Tudo se deseja ver: Mergulhos na Coleção Collaço Paulo
Apresentação
Pesquisa expande o sentido de uma coleção
Equipe do Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação
O Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV) da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), o Instituto Collaço Paulo – Centro de Artes e Educação, o Museu da Escola Catarinense (Mesc) e a Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) uniram-se para realizar, no Mesc, em Florianópolis (SC), nos dias 9 e 10 de novembro de 2023, o seminário “Tudo se Deseja Ver – Mergulhos na Coleção Collaço Paulo”. A agenda previu também o lançamento do livro “Passado-presente em Obras Tridimensionais: Uma História da Arte de Santa Catarina”, organizado por Sandra Makowiecky e Luana M. Wedekin. A participação foi aberta ao público interessado. Da parceria, surge essa publicação, a primeira realizada envolvendo pesquisas de alunos e professores do programa de pós-graduação da Udesc e o Instituto Collaço Paulo.
A iniciativa consistiu em uma densa programação, inicialmente com duas conferências de pesquisadores convidados, o professor doutor Carlos Terra, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), estudioso do tema da paisagem nos séculos XIX e XX na arte brasileira e o professor doutor Paulo Gomes, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), especialista na obra de Pedro Weingärtner e diretor da Pinacoteca Barão de Santo Ângelo, do Instituto de Artes da UFRGS em Porto Alegre (RS), que lamentavelmente, acometido pela covid-19, se viu obrigado a cancelar a vinda. Em razão disso, a organização do evento convidou a professora doutora Sandra Makowiecky para realizar a segunda conferência com uma abordagem que alcança uma das mais recentes obras a entrar na Coleção Collaço Paulo, um Francisco dos Santos Xavier (1739-1814), o controverso Xavier das Conchas, cujo local
de nascimento o coloca ora no Rio de Janeiro, ora em Santa Catarina. Sem o mesmo alcance do mestre Antônio Francisco Lisboa (1738-1814), o Aleijadinho, Xavier tem uma produção marcante por um estilo sem igual. Cria figuras sacras, esculturas feitas a partir de elementos marinhos como conchas e escamas de peixe, entre outros materiais.
A ocasião previu 17 comunicações baseadas em artigos escritos por pesquisadores do Grupo de Pesquisa História da Arte: Imagem-Acontecimento e estudantes do programa de pós-graduação da Udesc, que frequentaram a disciplina Territorialidades modernas e contemporâneas, ministradas no semestre 2023/1 pelas professora e doutora Sandra Makowiecky e a professora e doutora Luana M. Wedekin.
A apresentação e os artigos são os trabalhos finais da disciplina, que adotaram como objeto obras da Coleção Collaço Paulo, especificamente as exibidas nas duas exposições realizadas no Instituto Collaço Paulo “Mais Humano: Arte no Brasil de 1850 -1930” e “Martinho de Haro: Indivisível Substância”. Os textos articulam conceitos e autores caros para a linha de pesquisa em teoria e história da arte do PPGAV. A reunião desses artigos resultou em um e-book e um livro impresso.
No dia 9 de novembro, o evento abriu com uma mesa de boas-vindas composta por Sandra Makowiecky, coordenadora do MESC, e Mara Rúbia Sant’Anna, coordenadora da PPGAV, seguida por um espaço dedicado à apresentação do instituto e da Coleção Collaço Paulo, quando falaram a doutora Francine Goudel, curadora-chefe, a jornalista Néri Pedroso, responsável pela produção de conteúdo e comunicação e Marcelo Collaço Paulo, diretor-presidente do instituto.
No dia da abertura também ocorreu a conferência “O Percurso da Paisagem: Instituto Collaço Paulo, Uma Fonte de Estudos” com o professor doutor Carlos Terra, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele compartilhou seus conhecimentos, ampliando o panorama e as noções sobre a prática deste gênero na pintura. A mediação esteve sob o encargo de Sandra Makowiecky.
Logo após, a primeira mesa-redonda contou com Camilla Vieira de Aquino Mioabordando “Pedro Weingärtner: Crônicas e Detalhes para Além do Picadeiro”, e Mara Rúbia Sant’Anna sobre “Victor Meirelles, Pettorina em Vermelho”. A mediação foi de Beatriz Goudard. Todas as falas comportaram um momento para o debate.
A segunda mesa-redonda do dia, focou na produção do catarinense Martinho de Haro (1907-1985) com mediação de Danielle Benício. Fred Stapazzoli falou sobre “O Banquete de Martinho: Tintas Universais em Pinceladas Locais”; Rafael Costa Geremias, “Martinho de Haro: Composição Barco no Cais, Pequeno Porto, Embarque e Barcos” e, finalmente, Francielen Vieira Meurer que abordou “Martinho de Haro e O Patrimônio Imaterial de Florianópolis”. O dia encerrou com a sessão de autógrafos do livro “Passado-presente em Obras Tridimensionais: Uma História da Arte de Santa
Catarina”, organizado por Sandra Makowiecky e Luana M. Wedekin.
“Miradas da Virada do Século na Coleção Collaço Paulo” foi o enfoque do primeiro momento do segundo dia, com a terceira mesa-redonda do evento, tendo como mediadora Isadora Cunha Caldas e como falantes Renne J. Turíbio Evangelista que analisou “A Obra ‘Dama na Rede’, de Aurélio de Figueiredo: Uma Análise do Detalhe (1895)”; Daniela Queiroz Campos que estudou “Rodolfo de Amoedo: Uma Euterpe entre Borboletas e Drapearias (1889)”; Luana M. Wedekin que abordou “São Francisco, Narciso ou Fauno? Uma Estranha Iconografia em Obra de Belmiro de Almeida da Coleção Collaço Paulo (1925)”.
O dia intenso, totalizou cinco mesas-redondas. A quarta mesa discutiu os gêneros artísticos na Coleção Collaço Paulo e reuniu Luciane Ruschel Nascimento Garcez que apresentou “Estêvão Silva, Oferecendo a Nação: Natureza-morta na Exposição Universal de 1889”; Cibele Ribeiro, “Martinho de Haro e o Gênero da Natureza-morta” e, por fim, Julia Charão Otero que falou sobre “Marques Júnior. No Espelho (1921)”. A mediação esteve sob a responsabilidade de Renne Turíbio.
Fred Stapazzoli mediou a quinta e última mesa-redonda do encontro, que amarrou os temas deste momento sob a perspectiva das diversidades na Coleção Collaço Paulo, tendo como palestrantes Alice Viana Bononi, “Sebastião Fernandes, S/Título (c. 1890)”, Ana Carolina Campos França que abordou “Pedro Perez. Tomando a Lição (1895)”, Korina Aparecida Teixeira Ferreira da Costa sobre “Cerâmica, Paisagem e Utopia: Saber Ver Florianópolis, Através das Obras de Martinho de Haro” e Emiliana Pagalday, “Arte e Educação: O Educativo na Exposição de Martinho de Haro”.
A conferência da professora Sandra Makowiecky, encerrou o seminário com mediação de Luana Wedekin. A fala “Xavier das Conchas Chega à Santa Catarina pela Coleção Collaço Paulo” englobou as singularidades do artista, importante nome da arte barroca brasileira. Makowiecky expôs a descoberta e a pesquisa em torno do trabalho, um dos últimos a entrar na catalogação da coleção.
Além dos citados na programação, a professora Ana Lúcia Beck, professora da Universidade Federal de Goiás e participante do grupo de pesquisa História da Arte: Imagem – Acontecimento, cadastrado no CNPq, enviou para publicação o artigo “Antônio Ferrigno. Esperança”. De igual forma, incluiu-se na publicação o trabalho da aluna Giulia Cechinel de Oliveira, “As Memórias da Musa Florianópolis: um entretempo da cidade modernizada na obra de Martinho de Haro”.
Além de 19 artigos assinados pelos pesquisadores alunos e professores, em busca de contextualizações, o livro agrega um artigo de Francine Goudel, curadora-chefe do Instituto Collaço
Paulo, que relata as idealizações das duas mostras realizadas em momento inaugural da instituição criada em 2022 justo para dar acesso à Coleção Collaço Paulo para fins de pesquisa. Para
situar os leitores, há também um perfil biográfico de Marcelo Collaço Paulo, diretor-presidente do instituto. Distanciado de interesses personalistas, na condição de um porta-voz do casal
de colecionadores, o texto da jornalista Néri Pedroso traz a gênese desta reunião de obras iniciada há 40 anos e, procura, enfim, ampliar a compreensão de que as coleções integram o
complexo sistema de arte.
A publicação abrange 21 artigos resultantes do encontro entre a academia e a Coleção Collaço Paulo, difundida pelo Instituto Collaço Paulo, que em 2023 atuou entre obras, consultas, encontros, diálogos, documentos, pedidos, pesquisas, visitas, conversas, relacionamentos, seminário, reflexões, reuniões – uma infinidade de trocas em favor da amplitude do conhecimento.
A experiência entre a Universidade do Estado de Santa Catarina e o Instituto Collaço Paulo se traduz em dividendos que dão sentido aos compromissos sociais das duas instituições e ajudam no campo didático-pedagógico, no caso dos alunos pesquisadores, a sedimentar carreiras acadêmicas. O livro impresso se expande agora em busca de novos interessados, leitores que certamente poderão ampliar pesquisas ou se deleitar com a grandeza das artes visuais.