Exposição na Cave Galeria discute a transmutação como memória elementar da Natureza

Imagem: Júlio Jardim, Guardião, 1-2, 2025, Cerâmica policromada. Foto Divulgação

No sábado, dia 22 de março, das 16h às 21h, a Cave Galeria inaugura a nova exposição “Memória elementar”, de Gi Monteiro, Júlio Jardim e Navegante Tremembé. Com a curadoria de Lucas Dilacerda, a exposição apresenta pinturas, desenhos e esculturas que abordam temas como ecologia e ancestralidade. A exposição discute a transmutação como memória elementar da Natureza, ou seja, compreende que tudo que existe é feito de uma mesma matéria em movimento que está em constante transformação e que, por isso, assume diferentes formas de existência. Desse modo, a exposição questiona a separação moderna entre natureza e cultura, e a histórica divisão da vida entre reinos separados. Humano, animal, vegetal e mineral são todos constituídos de uma mesma energia vital que percorre e atravessa tudo que existe. As obras, a partir de suas diferentes materialidades, apresentam seres híbridos em estado de germinação, criando composições ora figurativas, ora abstratas, que reúnem aquilo que a modernidade colonial separou.

Além disso, ao discutir o conceito de “memória elementar”, a exposição amplia a concepção convencional de ancestralidade. Os artistas investigam a sua ancestralidade para além da memória humana oriunda da família e do parentesco humano, e buscam uma memória elementar que também é a ancestralidade da pedra, dos rios, da floresta, do céu, da paisagem, da Terra etc. A memória elementar é a memória da transmutação que cria e transforma tudo que existe. Essa memória nos permite se reconectar com a natureza e enxergá-la como nossa ancestral. Desse modo, a exposição contribui para uma maior conscientização e sensibilização das pessoas para as questões ecológicas que enfrentamos no contemporâneo.

Na curadoria de Lucas Dilacerda, cada obra é concebida como um registro da transmutação, isto é, como memória elementar da Natureza. Cada artista, à sua maneira, aciona esse repertório da Terra por meio de suas próprias materialidades: seja o toá, o barro ou o escuro.

Sobre os artistas

Gi Monteiro (ela/dela; travesti negra) investiga o escuro como um espaço onde infinitas possibilidades imprevisíveis podem acontecer. Sobre a superfície escura do indeterminado, a artista desenha os movimentos indecifráveis da energia vital que imprime diferentes marcas abstratas na matéria. Assim, vemos brotar pequenos seres em estado de germinação, em composições plásticas de microrganismos que integram uma complexa ecologia de trocas de energia e cargas vitais. Por isso, os seus desenhos se tornam memórias da liberdade, porque são escritas em linhas que nos possibilitam contar outras histórias sobre a matéria que nos constitui.

Júlio Jardim (ele/dele; homem negro 60+) experimenta o barro como uma matéria espiritual. Em suas cerâmicas, nascem seres híbridos entre o humano, o animal, a planta, o mineral e os encantados, que se fundem para formar entidades imaginárias com referência às cosmovisões africanas e indígenas. No seu processo, a terra, a água, o fogo e o ar são elementos que transformam o estado da matéria e colaboram, junto com a mão do artista, para dar forma ao barro através de uma geometria sagrada: o círculo, o quadrado e o triângulo. Dessa forma, as esculturas de Júlio acionam práticas ancestrais milenares e performam a transmutação como condição inevitável da vida, realizando assim uma ligação sagrada entre o céu e a terra.

Navegante Tremembé (ela/dela; mulher indígena 60+), há quase 40 anos, retrata a sua cultura indígena por meio de pinturas com o toá, que é um pigmento natural extraído do solo do mangue, com cores produzidas por camadas geológicas formadas há milhões de anos na Terra. Esses pigmentos carregam consigo não apenas a materialidade da terra, mas também a conexão espiritual com o território e a memória do povo Tremembé. Em suas pinturas, vemos paisagens ancestrais onde diferentes seres vivos co-habitam o plano em um forte estado de harmonia, fazendo com que seus trabalhos se tornem arquivos e patrimônios da Terra.

Portanto, “Memória elementar” é um convite para lembrarmos daquilo que é mais essencial para a vida: a conexão com a Natureza e o seu interminável movimento de transmutação. Afinal, o movimento da vida é o movimento da criação.

SERVIÇO
Entrada Gratuita

Abertura: Sábado, 22 de março de 2025, das 16h às 21h
Endereço: Rua Pereira Valente, 757 – Casa 03 – CEP: 60160-250
(Travessa Ana Benevides)
Entre as Ruas Leonardo Mota e Vicente Leite.

Período em cartaz:
22 de março de 2025 a 3 de maio de 2025

Horário de funcionamento:
Terça à sexta – 13h às 19h
Sábado – 10h às 14h

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