Imagem: GISELE CAMARGO Brutos Cipó (11), 2022
Exposição no Centro Cultural Justiça Federal apresenta um panorama da poética
do Cerrado, a partir da coleção de Sérgio Carvalho, ao mesmo tempo em que
estabelece conversas-embates entre obras que configurem este universo que o
centro excêntrico (em relação ao mapa cultural brasileiro) produz como discurso
visual e estético. Com curadoria de Marília Panitz, a mostra que reúne cerca de
140 obras de mais de 40 artistas, será inaugurada no dia 25 de janeiro
O Bioma Cerrado é o segundo maior da América do Sul. As modernas capitais dos estados
abarcados pelo bioma vão tendo que se haver com a potência da ancestralidade em seus
entornos. Cada vez mais, os habitantes desses centros, e em especial aqueles cujo matéria prima
do trabalho é a poética, lançam mão da natureza e da cultura ao redor, um redescobrimento que
deixa sua marca na produção artística e na ação política de declarar suas especificidades em
relação a outras regiões. E suas semelhanças.
A proposta desta mostra é estudar, dentro da Coleção Sérgio Carvalho, os indícios de tal
hipótese. Sérgio é um colecionador de arte contemporânea brasileira, com um acervo que
contempla todas as regiões do Brasil. Mas, talvez por viver em Brasília, tenha um documento dos
mais interessantes da produção artística – do final do século passado e das duas primeiras
décadas deste em que vivemos –, no centro do país.
Com obras que abrangem as últimas décadas do século XX e as duas primeiras deste século,
Horizonte Cerrado reflete a potência artística de uma região que, embora geograficamente
central, é culturalmente excêntrica. Ao reunir produções dos estados do Centro-Oeste (Goiás,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal) e regiões limítrofes de Minas Gerais e Bahia,
é possível traçar um mapeamento cultural que transcende fronteiras geopolíticas. O Cerrado,
enquanto espaço físico e simbólico, influencia não apenas os que nasceram ali, mas também
aqueles que, por escolha ou destino, passaram a habitá-lo, reinterpretando sua força e beleza
em diversas linguagens artísticas.
Horizonte Cerrado: Viver no centro do mapa é uma realização do Instituto de Promoção à Arte e
Cultura – IPAC, com produção assinada pela 4 Art e patrocínio da Eletrobras.
A EXPOSIÇÃO
A mostra apresenta-se distribuída em cinco salas.
Sala 1 – Na linha contínua da paisagem, o que permanece…
A ideia de paisagem é percorrida por suas diferentes abordagens. Pode ser uma operação de
recorte do elemento que a define, a pedra, em uma experiência de não assentamento, ou de
pouso na superfície geométrica de cor – quase um inventário –, ou o relato do cotidiano, ação
banal tornada poética. Pode figurar a visão do passageiro que percorre a distância da mata ao
cerrado e à cidade futurista, em imagens em movimento que são quase abstrações ou a composição de horizontes oníricos, cujas personagens se perdem na imensidão ao redor. Ou
pode mergulhar nos elementos que à compõem, experiência física de diluição no lugar ou
decodificá-la através da tela, quase inexistente, como alusão à distopia.
Artistas: Dirceu Maués, Fernanda Azou, Gisele Camargo, Irmãos Guimarães e Ismael Monticelli,
Marcos Siqueira, Pedro Gandra.
Sala 2 – Entre traçados, anotações e costuras
O traço aqui se impõe como desenho, não importando em que linguagem as obras são
concebidas. O traço anota o pensamento, anota o lugar, deriva nas possibilidades da figuração,
ganha o espaço tridimensional para se inscrever. E na criação dos trabalhos, apresenta certas
questões, ou narrativas. É na justaposição, nos recobrimentos e nas emendas que o sentido se
apresente para o olhador. Como se a linguagem fosse tomando para si todos os vestígios dos
olhares, dos objetos, dos movimentos… Reaproveitamentos do mundo. O que já foi, continua
presente nas transformações das coisas?
Artistas: Athos Bulcão, Elder Rocha, Evandro Prado, Helô Sanvoy, Luiz Mauro, Miguel Ferreira,
Raquel Nava, Rava, Virgílio Neto.
Sala 3 – Chão de terra, céu azul, chão de concreto
Camadas de tempo vão se sobrepondo. O novo inventa uma história fictícia para estabelecer sua
hipótese, aposta em um futuro como abandono do passado. Mas a raiz se impõe. Entre a
construções, cresce a vegetação que retoma sutilmente o seu espaço. O cerrado dormita a cada
ano, parece morrer, mas retorna à primeira chuva. A cultura se modifica e segue aprendendo
com a inovação para seguir viva. Sob o imenso céu azul do centro do Brasil – sempre o mesmo –
a história se faz inscrita na paisagem. O concreto se desenha sobre o chão mais antigo do país. E
passamos a fazer a arqueologia das coisas, com os olhos entre duas direções.
Artistas: Adriana Vignoli, Alice Lara, David Almeida, Florival Oliveira, Isadora Almeida,
João Angelini, Karina Dias, Luciana Paiva, Ludmilla Alves, Marcelo Solá, Matias Mesquita,
Pedro David, Pedro Ivo Verçosa, Wagner Barja.
Sala 4 – Das reminiscências do agora
Há algo que atravessa as terras antigas. Uma disposição de ver o invisível. Às vezes por fé, outras
por atualização da memória através de suas imagens e objetos… às vezes por medo. Há ainda
aquilo que se forja pela metaforização da vida comum, um certo mergulho no fantástico, E há a
conjugação das palavras com as figuras. No encontro entre ancestralidade e projeção do futuro,
o imaginário se manifesta. Toda imagem transcende sua função rotineira, tudo se desloca no
universo das coisas.
Artistas: Andrea Campos de Sá e Walter Menon, Antônio Obá, Coletivo Três Pe, Derik Sorato,
Léo Tavares, Valéria Pena Costa.
Sala 5 – O comum extraordinário: subversões
E a vida comum pode ser extraordinária, a depender do viés do olhar que a captura (?). a forma
de descrevê-la pode torná-la experiência única, muitas vezes improvável, outras insuportável.
Afinal, a naturalização do que ocorre com a sociedade provoca a banalidade. É preciso visão
poética e visão política. É preciso subverter a ordem que não pareça ter sentido. E muitas vezes,
é necessário inventar a realidade para poder produzir a mudança. As imagens aqui presentes são
figurativas, algumas realistas. Os eventos são reconhecíveis, mas…a partir daí tudo é
deslocamento, tudo é estranhamento. Como deve ser.
Artistas: Bento Ben Leite, Camila Soato, Fabio Baroli, Pamella Anderson.
O COLECIONADOR
Residente em Brasília, Sérgio Carvalho, advogado, 64 anos, começou sua coleção de arte
contemporânea em 2003, quando conheceu Nazareno, José Rufino, Eduardo Frota e Valéria
Pena-Costa, que o apresentaram a outros artistas. Encantado com o universo poético de cada um
deles, Carvalho resolveu vender as gravuras de Oswaldo Goeldi que possuía para comprar
fotografias de Lucia Koch.
Hoje – 22 anos após iniciar sua coleção – Sérgio Carvalho reúne obras de alguns dos mais
importantes artistas contemporâneos brasileiros, entre os quais Regina Silveira, Nelson Leirner,
Iran do Espírito Santo, Efrain Almeida, Sandra Cinto, Emmanuel Nassar, Hildebrando de Castro,
Rubens Mano, Berna Reale, Ana Elisa Egreja, Jonathas de Andrade, Flavio Cerqueira Sofia
Borges, Camila Soato e Rodrigo Braga, Zé Crente, Cícero e Mestre Paquinha.
SERVIÇO
Horizonte CERRADO – Viver no CENTRO do Mapa
Abertura: 25 de janeiro – 15h
Visita guiada com a curadora: 25 de janeiro – 16h
Período: 25 de janeiro a 23 de março
Centro Cultural Justiça Federal
Av. Rio Branco, 241, Centro, Rio de Janeiro / RJ
Uber: Rua México, 57, Centro, Rio de Janeiro / RJ
Dias/Horários: terça a domingo, das 11h às 19h
Grátis
Agende sua visita mediada em: visitas.ccjf@trf2.jus.br