Seminário de Pesquisa em Arte PPGAV – UFRGS
Linha de Pesquisa em Poéticas Visuais: Linguagens e contextos de criação
Formas da apresentação: percursos, transcrições e mapas mentais em duas propostas conceitualistas.
Prof. Hélio Fervenza
O ato de caminhar suscitou-me um particular interesse quando o observei em algumas propostas artísticas ligadas às correntes conceitualistas das décadas de 1960 e 1970. Para este seminário irei deter-me especificamente nas obras this way brouwn (1960-1964), de Stanley Brouwn e Túnel – Desenho ao longo de dois planos (1969), de Luiz Alphonsus.
Artista holandês nascido no Suriname, Stanley Brouwn iniciou sua série intitulada this way brouwn em 1960, nas ruas de Amsterdam. O artista interpelava os passantes perguntando-lhes sobre como ir daquele ponto onde se encontravam até outro lugar na cidade. Ao mesmo tempo, estendia uma folha de papel em branco e uma caneta ou lápis, pedindo-lhes que aí desenhassem o itinerário. Posteriormente, os esboços realizados pelas pessoas encontradas foram carimbados com a frase this way brouwn. Essas obras apresentam e apontam para a abstração das transcrições utilizadas, operando um processo associativo inconclusivo e instável com as formas, os códigos e os sistemas de representação dos mapas. Elas instauram um processo de significação no seu confronto com a incomunicabilidade e a irredutibilidade da experiência que permanece na memória de cada corpo.
A obra intitulada Túnel – Desenho ao longo de dois planos, do artista brasileiro Luiz Alphonsus, é composta por uma documentação fotográfica, um registro sonoro, e um texto. Seu ponto de partida é o percurso efetuado a pé por dois grupos, na cidade do Rio de Janeiro, em 1969. Um dos grupos atravessou o túnel Novo (acesso Botafogo-Copacabana), e o outro, subiu e cruzou pelo morro acima do túnel. Eles começaram do mesmo ponto, e se encontraram também num mesmo ponto, do outro lado do morro. Não existem mapas ou desenhos com a transcrição dos percursos realizados. No entanto, a proposta do artista nos convida para pensarmos os percursos como um desenho no espaço a partir das linhas de deslocamento dos grupos nos dois trajetos. Os registros enfatizam a presença de mapas mentais e do imaginário na constituição tanto das caminhadas quanto dos próprios registros.
Hélio Fervenza – Artista visual, realizou um Doutorado em Artes Plásticas na Université de Paris I Panthéon-Sorbonne, concluído em 1995. É professor no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFRGS, e no Programa de Mestrado em Arte e Cultura Visual da Universidade da República do Uruguai. Foi pesquisador do CNPq entre 1996 e 2022. É autor do livro O + é deserto, Documento Areal 3, Escrituras Editora, 2003. Participa dos livros: Artes Visuais – Coleção Ensaios Brasileiros Contemporâneos, Rio de Janeiro, FUNARTE, 2017; Interlocuções: Estética, Produção e Crítica de Arte, Rio de Janeiro, Apicuri, 2012; Dispositivos de registro na arte contemporânea, Rio de Janeiro, Contracapa, 2009; Concepções Contemporâneas da Arte, Belo Horizonte, Editora UFMG, 2006; A fotografia nos processos artísticos contemporâneos, SMC / Editora da UFRGS, Porto Alegre, 2004; O Visível e o Invisível na Arte Atual, Belo Horizonte, CEIA – Centro de Experimentação e Informação de Arte, 2002. Apresenta sua produção artística em exposições individuais e coletivas em diversos países desde o início dos anos oitenta, entre elas: Bienal de Veneza (Itália), Bienal de São Paulo (sala retrospectiva 1990-2012), Bienal de Yakutsk – BY14 (Rússia), Bienal do Mercosul (Porto Alegre), Museu da Gravura (Curitiba), Spinnerei – Leipzig (Alemanha), Museu Victor Meirelles (Florianópolis), Pinacoteca de São Paulo (São Paulo), Bienal de Amsterdã (Holanda), Université de Paris I (França), Instituto Itaú Cultural (São Paulo, Belo Horizonte, Brasília), Centro Cultural del Ministerio de Educación y Cultura (Uruguai), FUNARTE (Rio de Janeiro), MARGS (Porto Alegre), Fundación DANAE (França, Espanha), Musée des Beaux-Arts de Verviers (Bélgica).
Organização: Linha de Pesquisa em Poéticas Visuais: Linguagens e contextos de criação