CAIXA Cultural RJ abre agenda de 2024 com grande mostra “Djanira, um panorama da Coleção Museu Nacional de Belas Artes”

Imagem: Três sobrados São Luís do Maranhã_1974_óleo sobre tela_65x100cm

A partir do dia 5 de janeiro, a CAIXA Cultural RJ apresenta a exposição “Djanira, um panorama da Coleção Museu Nacional de Belas Artes”, um recorte expressivo das mais de 800 obras do acervo de Djanira da Motta e Silva, sob curadoria de Luiz Eduardo Meira de Vasconcellos. Nascida em Avaré, no interior de São Paulo, em 1914, a artista é considerada um dos expoentes do movimento artístico modernista no Brasil. Nesta individual, serão reunidas 100 obras do MNBA, entre pinturas, desenhos, gravuras e matrizes, com ênfase em questões fundamentais da sociedade brasileira, como o trabalho, a religião e o lazer, interpretados e retratados por ela com curiosidade antropológica e lirismo. A produção está a cargo da Artepadilla e poderá ser visitada até 24 de março de 2024.

Como o curador Luiz Eduardo Meira de Vasconcellos lembra, Djanira da Motta e Silva pode ser considerada uma artista fundamental do cenário da arte brasileira do século XX, não só porque desenvolveu uma linguagem, a um só tempo, própria e universal, mas também por sua obra ter abordado e refletido sobre questões essenciais da formação sociocultural do país. Não por acaso, esta tem sido cada vez mais reconhecida nacional e internacionalmente nas últimas décadas. Sua trajetória artística, no entanto, ainda não se encontra suficientemente documentada e conhecida para que se avalie com o devido embasamento histórico a singularidade de suas contribuições.

A ampla coleção de seus estudos e trabalhos pertencentes ao Museu Nacional de Belas Artes, constituída sobretudo pela doação feita por seu viúvo, José Shaw da Motta, em 1984, permite compor um panorama de sua obra, abarcando a grande maioria dos temas privilegiados por ela e os diferentes meios e técnicas de que se valeu ao longo de sua trajetória artística. Desse modo, apresentar parte significativa dessa coleção ao público de diferentes cidades brasileiras pode tornar mais conhecida a sua trajetória artística e contribuir para pesquisas sobre a sua produção plástica em diferentes campos. 

Algumas curiosidades sobre as obras que estarão expostas

– “Estudo para índia Canela” e “Três sobrados” compõem um núcleo de sete obras feitas a partir de visitas ao Maranhão, com destaque para uma temporada passada junto aos índios Canela.

– “Sonho e aurora” é um ex-libris que integra seção com diversos estudos e gravuras feitas para colaboração em livros:  “Campo geral”, de João Guimarães Rosa; “Antologia poética”, de Paulo Mendes Campos, e projeto com Xavier Placer.

– “Fla-Flu” (há também dois estudos para esta tela) e “Jogadores de dominó” compõem o segmento que aborda atividades lúdicas e manifestações culturais do país.

Além deste trabalhos, vale destacar oito estudos para painéis de azulejos, em uma plotagem de cinco metros do original feito para o Túnel Santa Barbara e que hoje se encontra no pátio interno do Museu Nacional de Belas Artes. Há um grande segmento dedicado ao trabalho e aos trabalhadores em olarias e em minas de ferro, carvão e cal, no qual se pode ver a preocupação da artista em apreender e documentar as provações do labor em tais contextos de extração de riquezas naturais.  

Saiba mais sobre a artista

A obra de Djanira da Motta e Silva contém uma dimensão universal, admirada não apenas por renomados críticos de arte que lhe foram contemporâneos, como Mário Pedrosa, Quirino Campofiorito e Guerreiro Ramos, como também, cada vez mais, por especialistas e amantes da arte de hoje.

Dona de uma pensão no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, conviveu com inúmeros imigrantes europeus que lá se instalaram e importantes intelectuais e artistas, entre os quais o romeno Emeric Marcier, seu primeiro professor de pintura, o poeta Manuel Bandeira e os artistas Milton Dacosta e Carlos Scliar.

Legou-nos em sua obra um inventário dos costumes nacionais e da essência brasileira. Retratou pessoas comuns (pescadores, mineiros, trabalhadores do campo, rendeiras, costureiras) em situações de trabalho e lazer, mas sem que se deixassem reproduzir estereótipos que muitas vezes os marginalizam, bem como festas, santos e imagens de devoção sincrética, e manifestações culturais, como o circo e o futebol. Ademais, manifestou uma profunda identificação com o povo e a poética de seu cotidiano, seus sofrimentos e suas lutas, e com a paisagem brasileira, entendida não apenas em termos geográficos, mas também à luz daqueles a habitam. 

Pintora andarilha, gostava de, em suas palavras, “viver o cotidiano brasileiro, de anotar sugestões, de sentir deslizar o dia a dia. Estimo os que têm anseio de incontida liberdade: não existe trabalho feliz, sem uma autêntica cultura nacional”. Entre os aspectos da vida dos brasileiros retratados em sua obra, destacam-se as minas de carvão em Santa Catarina, a extração do ferro em Itabira e os indígenas Canela, no Maranhão.

Além da vasta coleção abrigada no Museu Nacional de Belas Artes, há obras suas no Museu do Vaticano, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, na Coleção Gilberto Chateaubriand, no acervo do Banco Itaú, e painéis no Liceu Municipal de Petrópolis e na Casa de Jorge Amado, em Salvador. O painel Santa Bárbara, com 130 m2, feito em homenagem aos 18 operários mortos durante a abertura do Túnel Santa Bárbara, ligando os bairros do Catumbi e de Laranjeiras, no Rio de Janeiro, encontra-se hoje exposto no pátio do Museu Nacional de Belas Artes e haverá, na exposição, a sua reprodução integral numa plotagem.

Serviço

“Djanira, um panorama da Coleção Museu Nacional de Belas Artes”

Abertura: dia 5 de janeiro de 2024, às 18h

Visitação: até 24 de março de 2024

Local: CAIXA Cultural RJ – Unidade Passeio

Endereço: Rua do Passeio, 38 – Centro – RJ

Curadoria: Luiz Eduardo Meira de Vasconcellos

Produção: Artepadilla

Funcionamento: de terça-feira a sábado, das 10h às 20h; domingo, das 11h às 18h

Entrada gratuita

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