Artigo
A Bacchanalia de Poty
Poty valeu-se da liberdade crua e real da arte contemporânea para trazer a perversão da prática libidinosa das antigas bacanais…
Sandra Daige Antunes Corrêa Hitner – ABCA/São Paulo

O que os olhos vêem e os ouvidos ouvem, a mente acredita, dizia o ilusionista Harry Houdini (187s4-1926).
Poty ampliou o olhar desse homem em um enorme par de óculos e o retratou para o mundo. Mostrou na lente da esquerda dos óculos alguém, sentado em uma cadeira, que parece organizar um evento sexual : no chão, à sua frente, ocorre o entrelaçamento de um homem ajoelhado sobre uma mulher. Parece que há fila de espera para o desfrute da ação. Na lente do lado direito, um homem nu em frente a uma mulher nua, em processo de entendimento. Haveria outras combinações no mesmo ambiente escuro?
Poty valeu-se da liberdade crua e real da arte contemporânea para trazer a perversão da prática libidinosa das antigas bacanais para uma mente que é capaz de espelhar o mundo a partir de ótica comprometida com a luxúria, totalmente sem sutilezas.
Tito Lívio, o historiador do século I d.C, define as bacanais como ritos que respondiam pelas mais grotescas vulgaridades, onde também ocorriam outros tipos de crimes e conspirações políticas, sobretudo nas suas sessões noturnas.
No caso das obras primas mencionadas pela Historiografia da Arte, este tipo de cena varia de acordo com a interpretação: cada artista a seu modo se interessava por esse tipo de ritual registrado pela mitologia Greco Romana em homenagem a Baco (Dioníso), deus do vinho. Fontes antigas descrevem que os partidários deste deus (bacantes), no seu delírio, cometiam toda sorte de excesso selvagem e desregrado. Por esta razão, o histórico destas imagens traz depoimentos diferentes sobre esse culto: agressivas ou academicamente subliminares, mas sempre inspiradas pelas tendências da arte da época.
As cenas de Poty retratam o universo sem elegância deste homem pouco rebuscado que só consegue produzir tal tipo de mundo. A grã-finagem passou longe deste ser, longe da sua aparência, longe de seu autêntico eu.
Os olhos, realmente, criam uma ilusão que será a verdade da mente.
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Colaboração de Maria Célia Nobre e Marília Braida